terça-feira, 24 de abril de 2012

MANTRA


Concerto Mantra


Estima-se que no final do séc. XVI, existiam cerca de 50,000 Cristãos em Goa, mais ou menos 20-25% da população. Contudo estes valores são questionáveis quando investigamos mais a fundo os baptismos. Em Travancore, no sul, Francisco Xavier converteu mais de 10,000 aldeãos num só mês, o mesmo sucedeu em Goa. Alguns destes números são genuínos, mas na maioria os nativos apenas cumpriram um papel, quer por um interesse de não confrontação ou sob a base de não haver qualquer problema em adoptar uma segunda religião, só para o caso de haver alguma verdade nela. É verdade que os portugueses destruíram muitos templos hindus, os nativos assumindo uma atitude pacífica simplesmente deslocaram os seus templos para fora das fronteiras controladas pelos portugueses.

O alto nível de curiosidade, tolerância, adaptação e respeito demonstrado pelo imperador Akbar, assim como uma quantidade considerável de missionários e aceitação local permitiu o desenvolvimento de uma relação persistente. Esta é a razão pela qual no início deste texto está uma citação de William Dalrymple’s sobre um padre Hindú. Cujas palavras também deram forma ao processo (musical) criativo do projecto “ Mantra”. Os músicos que se juntaram para este projecto podem traçar diferentes educações religiosas – Cristãs, Musulmanas, Sikh – e isto é digno de ser celebrado agora em pleno século XXI.


Na criação da música deste programa, tentamos seguir o caminho estabelecido à cinco séculos atrás. Todo o processo de ensaios tem sido para nós uma revelação, se pensávamos conhecer minimamente o repertório de cada um, foi um choque descobrir o quão limitado esse conhecimento era. Exploramos técnicas que as tradições podem ter sobreposto parcialmente, o uso “modes or rags” básicos ou o uso de um determinado padrão rítmico, e procuramos áreas onde nos podemos complementar, através de sons vocais ou desenvolvimentos harmónicos.

Também tivemos de respeitar o facto de termos todos aprendido música de formas muito diferentes. A excelente educação musical dos músicos do “Consort Orlando” geralmente significa que rapidamente podemos fazer uma leitura à primeira vista e gostamos de pensar que conseguimos traduzir eficientemente numa pauta música com sentido. Isso contrasta completamente com a experiencia do Shahid; absolutamente tudo o que ele faz é por memorização uma vez que não lê pautas. Como resultado do seu estudo, desde tenra idade, Shahid carrega consigo uma espantosa e numerosa base de dados de complexas canções que é capaz de cantar no momento. Como resultado desta e doutras diferenças é que tivemos de adaptar os nossos médodos de trabalho, mas o beneficio é que tivemos de nos deixar levar pelos nossos colectivos instintos musicais e eles alcançaram frutuosos campos de exploração.
O resultados dos nossos ensaios foram notavelmente diversos e gostamos de acreditar que atingimos o nosso principal objectivo. Esse resultado não é apenas uma sobreposição de tradições musicais, mas uma integração de estilos inspirados e validados pelo passado, mesmo que o processo criativo tenha sido bem cimentado no presente.

Angus Smith

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